Nesta terça-feira, dia
4 de setembro, foi divulgado oficialmente o resultado do IDEB 2017. Na
oportunidade, fiz à noite uma breve análise dos resultados de Cabo Frio nesse
contexto, durante nossa fala na tribuna da Câmara Municipal. Após essa
abordagem, surgiram alguns pedidos para que pudéssemos esmiuçar a reflexão.
Vamos tentar fazê-lo nas próximas linhas.
Inicialmente, é preciso
dizer que o IDEB contempla três notas avaliativas: uma nota de entrada no
Ensino Fundamental (5º ano); uma nota de saída desse segmento (9º ano) e uma
nota de saída do Ensino Médio (3º ano). Essas notas levam em conta avaliações
realizadas por estes alunos, bem como taxas de evasão (abandono da escola), sempre
referentes a uma meta evolutiva, ou seja, a meta que o Ministério da Educação
pretende que a escola ou a rede atinja naquele ano, sempre em acordo com suas
avaliações anteriores.
Cabo Frio apresentou um
pequeno aumento na nota de entrada do Ensino Fundamental em relação à última
avaliação (2015), pulando de 4,9 para 5,0. Entretanto, a meta, naquele ano, era
5,3, enquanto em 2017 era 5,6. Isso significa que, embora a nota absoluta tenha
aumentado, a distância da meta também aumentou, já que essa diferença era de 0,4,
e, neste ano, de 0,6. Apesar disso, é preciso creditar o aumento absoluto da
nota de entrada aos guerreiros e guerreiras da Educação Infantil e
Alfabetizadoras, tão pouco incentivadas em nossa cidade – lembro que, em 2017,
o Executivo enviou para a Câmara um Projeto para acabar com a gratificação
desses profissionais, que acabou sendo aprovado – votei contra.
No que se refere às
notas de saída do Fundamental, a situação é ainda mais preocupante, pois os
índices absolutos caíram, e os relativos à meta também. Enquanto nossa avaliação
em 2015 era 3,9 nesse quesito, em 2017, desceu para 3,8. Ficamos a 1,2 pontos
de distância da meta naquele ano, mas a 1,6 neste ano – uma diferença muito
grande para os padrões avaliativos deste sistema. Isso mostra que nossos alunos
e alunas saem piores do que entraram no Ensino Fundamental público municipal,
fruto de gestões equivocadas e seguidas, que desvalorizaram o profissional de
educação, não deram estruturas mínimas às unidades escolares, nem transparência
aos gastos no setor.
Além disso, os
resultados apontam para uma divisão entre os sistemas centrais e periféricos.
As duas escolas com melhores notas de entrada ficam na região central da
cidade, enquanto as duas unidades com piores resultados localizam-se na
periferia ou em territórios dominados pelo tráfico de drogas. O resultado se
repete com as notas de saída, ressalvando-se uma unidade localizada em região
periférica e de forte penetração do crime organizado, mas que figura como o
segundo maior índice de nono ano na cidade – um certo alento. Como defende
Raymond Boudon, os resultados educacionais, bem como seus efeitos, são
resultados de um conglomerado de elementos – entre ele, o social, que cerca as
escolas.
No que tange ao Ensino
Médio, os resultados, em termos de país, apontam que a política de
estadualização dessas unidades, executada pelo Governo do Estado, em que pese
seu amparo legal, trata-se de um equívoco, quando o referencial é a qualidade
do ensino. Prova disso é que o Rio de Janeiro figura entre os 7 estados que
decaíram em seus índices nesse segmento de 2015 para 2017. Como as avaliações nesse
nível ainda são muito recentes, apenas podemos analisar as comparações com
metas futuras – que são boas: nossa nota em 2017 foi 3.6, enquanto a meta a ser
alcançada só em 2019 é de 3.9. A única escola pública municipal de Ensino Médio
avaliada especificamente está a dois décimos da meta de 2019 – o mesmo
resultado da única escola assim avaliada no setor privado na cidade. Isso
mostra que nosso trabalho, junto à unanimidade do Poder Legislativo, no ano
passado, para manter esse segmento em nível municipal, foi acertado, ao contrário
da política estadual e dos desejos do Executivo à época.
Somos o 60º IDEB do
estado em notas de entrada e o 61º em notas de saída do Fundamental, entre 92
municípios. Em 2015, éramos o 59º em avaliações de entrada e o 46º em notas de saída
do Fundamental. Mesmo no Ensino Médio somos o 7º município entre os 9 avaliados
no estado nessa experiência de análise deste segmento, em 2017.
Os resultados, de modo
geral, são fortemente negativos para a cidade de Cabo Frio. Tenho recebido
reivindicações de falta de estrutura de funcionamento das unidades escolares,
ausência de profissionais suficientes e outros, há três governos – incluindo o
atual. Alguns direitos atrasados dos profissionais do setor começam a ser
quitados, apontando um fazer justiça à necessária valorização do trabalhador na
área.
Mas é preciso avançar
mais. Tenho a oportunidade de não interromper meu trajeto docente por causa do
mandato, seguindo a ministrar aulas no município de Macaé, no qual sou
concursado. Lá, nossa escola alcançou a nota de entrada 7,3, a maior do
município e a maior de sua história, sendo sua nota de saída também a maior da
cidade, assim como a do Ensino Médio supera todas as outras escolas da rede.
Lá, arriscamos o horário e a educação integral e exploramos atividades
alternativas, como robótica e corfebol – esporte ainda iniciante em nosso país,
tendo o profissional de educação um dos maiores salários do estado no setor.
Não acho que seja demérito copiar o que dá certo noutras paragens e sigo
colocando nosso mandato à disposição do município para fazermos uma verdadeira –
e urgente – revolução em nossa educação, a fim de que os próximos resultados
nos deem mais orgulho do que vergonha.
Rafael Peçanha
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