
Os estados mais fortes comumente
promovem a violência, pois o medo assim os impele, mas esquece-se que os
estados atacados por si só já são mais fracos, logo são impossibilitados de
saírem ao ataque na expectativa da pilhagem salvar seu sistema. Então porque
existe essa promoção gratuita da violência? Talvez a resposta seja o medo, esse
elemento que (des)norteia as convicções dos grupos, e com a Alemanha não foi
diferente.
É provável que muito desse sentimento
seja proveniente da fragmentação a qual a Alemanha foi submetida e que, somente
no futuro, como se mostrou, essa sensação de inferioridade iria ser cambiada
por uma grandeza nunca vista no mundo. Bismarck, com a unificação, proporcionou
a estabilidade necessária para iniciar o caminho que transformaria a Alemanha.
Esse caminho, mais tarde, ainda
reservaria alguns obstáculos que a colocariam de novo em uma situação de
inferioridade.
Muitos jovens foram para os campos de
batalha em 1914, acreditando ser algo maravilhoso. Havia ali um sentimento de
pertencer a uma futura grande nação. Mas na verdade a guerra foi um morticínio.
E é aí, quando você vai para a batalha e vê que somente do seu lado é que os
homens caem, que os alemães perceberam que o jogo mais uma vez havia escolhido
um vencedor e que não seriam eles.
Os generais franceses atuais vencedores,
apostavam na ofensiva, enquanto os alemães orientados pelo plano de Schlienfen,
que graças a uma invasão na Bélgica, proporcionaria uma rápida inserção na
França, já que as tropas alemãs estariam livres para a guerra na frente leste.
Os EUA, assim como a Grã-Bretanha,
temiam que a Alemanha dominasse todo o continente, sendo inevitável sua entrada
na guerra, que eliminou de vez qualquer possibilidade de vitória alemã. E como
uma tragédia anunciada os alemães são derrotados, o Kaiser e os príncipes
perderam seus tronos. O fim do regime e a destruição pós-guerra favoreceram a
ascensão ao poder de grupos que viviam renegados. Em destaque estão as
organizações de trabalhadores. A consequência desses acontecimentos foi a
redistribuição de forças. Os soldados e trabalhadores não queriam, agora,
prestar obediência à liderança de uma classe derrotada.
Estava claro que a instituição
Guilhermina tinha um problema a ser resolvido, derrotada interna e
externamente, restabelecer a Alemanha com potência militar e ainda manter seu
poder sobre a classe de trabalhadores que, nesse momento, estava cheia de
reivindicações.
Nesse cenário aparecem os Freikorps
(grupos paramilitares) cujos membros respiravam a tradição militar. Os
Freikorps detestavam a república parlamentar, sua propaganda serviu como
preparação para o putsch. Após o fracasso do putsch Kapp surge uma organização
terrorista denominada “Consul”, que tinha como objetivo o assassinato
sistemático de políticos “indesejáveis”. Os membros dos Freikorps e das
associações estudantis, foram responsáveis por inúmeros assassinatos nos
primeiros anos da república de Weimar. A maioria desses terroristas eram
recrutados na “boa sociedade” Guilhermina e nas famílias de classe média. Esses
assassinatos eram a sinalização de que a velha república parlamentar não era
desejada e que agora a aspiração era uma forte ditadura militar. A
incompetência do Kaiser e seus dirigentes em vencer a guerra provaram que suas
promessas, às classes trabalhadoras, não passavam de palavras vazias.
O momento pelo qual passava a Alemanha
mostrava nitidamente que o corporativismo era a única maneira de
autopreservação e que somente no Freikorps era possível encontrar tal elemento.
E foi para lá que se encaminhou a maioria dos desempregados. Um grande número
de Freikorps dirigiu-se ao Báltico, numa campanha de libertação dos
proprietários rurais germano-bálticos e líderes do movimento nacionalista letão
do controle Russo. Para esses grupos foram prometidas terras em troca da
libertação. É aqui que podemos entender o desenvolvimento de grupos terroristas
que atuaram contra o novo estado alemão.
Os Freikorps veem no partido
Nacional-Socialista uma nova possibilidade de darem continuidade as suas
ideologias políticas. Essa adesão foi importantíssima para o sucesso e ascensão
de Hitler ao poder, afinal a capacidade militar e organizacional dos Freikorps
tornou-se imprescindível para tal sucesso. Hitler teve êxito onde líderes do
Freikorps falharam: na destruição total do regime parlamentar de Weimar.
A organização dos jovens da república de
Bonn foi o fator chave, pois sua mobilização, mesmo ilegal, contribuiu, através
de assassinatos políticos, para abrir novas perspectivas para o futuro. O
sentimento desses jovens era de estar engessados num sistema que não lhes
favorecia em nada, tampouco para um futuro significativo.
* Adriano é professor, historiador e escreve no Blog às segundas-feiras.
Este texto foi originalmente publicado em 14/06/2012. Para ter acesso à publicação original, clique aqui.
Fonte: Os Alemães: a luta pelo poder e a
evolução do habitus no século XIX e XX. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed. , 1997.
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