Os últimos dias foram
massacrantes. Fatos extremos com repercussões e opiniões tóxicas sobre os
acontecimentos. Rayzza, Daiana, estupro coletivo em Santa Cruz/RJ. Nosso peso
diante do acontecido e do que as pessoas disseram me deixou envergonhado e me
senti falho.
As manas gritaram, apontaram e
disseram que querem viver, que precisam viver, precisam transitar, querem andar
com a roupa que quiser e se relacionar com quem quiser, como quiser e onde lhe
convém. Po, as manas tão certas. Nada mais contundente e real do que isso.
Só que veio a vergonha, primeiro
por mim. Sim, já assediei uma mana. Sim, já silenciei uma mana. Sim, já
constrangi uma mana. Sim, sim e sim. Tudo isso veio à mente e uma sensação de
ilegítimo diante de um apoio a autodeterminação feminina. Porque quando não
fiz, fui conivente com os manos que fizeram. Uma droga.
Senti-me falho. Porque por mais
que seja um militante anti-racista convicto e apoiador de todo qualquer
movimento social que preze pela emancipação humana, um homem machista ainda
habita em mim e toda possibilidade de opressão feminina ainda está à tona nos
meus atos.
A vergonha veio quando li
inúmeros homens querendo justificar a violação do corpo da mana de Santa
Cruz/RJ ou qualquer mana com um suposto levantamento de seu passado como alguém
promíscua ou usuária de drogas. Ela foi violada, assim como várias manas são
violadas, melhor dizendo, estupradas. Por dia no Rio rolam 12 estupros diários
de média.
Nossa região (Búzios, Cabo Frio,
Arraial do Cabo, São Pedro da Aldeia, Iguaba, Araruama e Saquarema) é quarta em homicídio de mulheres, primeira em tentativa de
homicídio a mulheres e quarto em estupros. E só soube disso depois da morte da
Rayzza que me obrigou a buscar informações sobre o feminicidio. Saber disso
depois de um ato horrendo, me torna falho.
Homens matam, estupram e violam
mulheres porque se sentem superiores. A subjugação do corpo diante da sua
vontade prevalece e as mulheres são mutiladas e destroçadas a todo momento por
aí. Deixar de se corporativista por conta de ser homem é um caminho, mas é
pouco. Muito Pouco.
Sinto que precisamos destruir
nossa masculinidade e tudo aquilo que ela acarreta. Porque deixamos um rastro
de merda e não tem ninguém para limpar. Somos assediadores, abusadores,
estupradores e assassinos. Somos e detonamos a merda toda pelo fato de sermos
homens.
Se não destruímos essa
masculinidade tóxica e nociva, entendermos como isso se introjetou em nossos
corações e almas, se funde em nossa cultura e naturaliza nossa barbárie, não
temos muito jeito de continuar. Seja ativista de qualquer coisa, não tem jeito
de continuar...
Envergonhado e falho, em busca da
destruição de si mesmo, para ser relevante em um mundo onde as manas precisam
viver...
* Fábio é MC, professor, ativista anti-racista e escreve neste Blog às terças-feiras.
Um comentário:
Amém. A coragem que nós temos de dizer...NÓS... já é um ponto no nosso crescimento. Sinal que já refletimos corretamente. Por minha vez, creio que algumas mulheres extrapolam no comportamento, na maneira de vestir-se e na escolha das companhias. Não é possível que as famílias não vejam onde está o erro. Uma jovem não pode dizer fui...e voltar a hora que quiser. Mulher, é mulher e sempre será mais frágil. A coisa chegou a um ponto, que ...se as famílias não se importarem, não tem polícia nem reivindicação, nem movimento que dê jeito. É CLARO QUE OS HOMENS TÊM QUE SE COMPORTAR E SEGURAR AS VONTADES DESCABIDAS APENAS POR SEREM HOMENS. A mulher anda nua demais.Não obedece a ninguém. Frequenta lugares que não deveriam, e a família nem sabe por onde ela anda.É FÁCIL FALAR. MÁS PODEMOS COMEÇAR POR NÓS MESMAS. SE COMEÇARMOS AGORA, QUEM SABE NOSSAS BISNETAS COLHERÃO BONS FRUTOS.
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