A paralisação de 48h iniciado ontem, e o ato realizado pelo Movimento Unificado dos Sindicatos que defendem os servidores municipais, realizado ontem pela manhã, na Praça Tiradentes, foram um sucesso - e não apenas de público, mas de efeitos e consequências para a articulação dos trabalhadores em prol de seus direitos.
Após a fala da Coordenadora do Sepe, Denise Teixeira, o Prefeito Alair Corrêa desceu do prédio da prefeitura (onde dezenas de funcionários já se amontoavam na janela superior, tirando fotos do evento) para ter o direito de se manifestar diante de todos os servidores.
Em sua fala, Alair contra-argumentou Denise, afirmando que não estaria mentindo quando afirma que a prefeitura não possui dinheiro para dar o aumento solicitado pelo movimento. Para provar isso, estaria preparando, no gabinete, as contas da cidade para que todos pudessem ter acesso e comprovar a informação.
Para relembrar, o prefeito, em reunião com as lideranças sindicais, propôs um reajuste de 5,83%. A proposta foi levada pelos sindicatos a uma Assembleia unificada, e, nela, os servidores decidiram por não aceitar a proposta do governante, e insistir no pedido de 13%, que soma os cerca de 8,7% da inflação do período com os pouco mais de 4% das perdas salariais desse ínterim.
Na fala, entretanto, Alair afirmou que, na reunião, os líderes aceitaram prontamente o percentual que ele apresentou, "e saíram rindo, felizes". Ora, tal fato não é verdade, afinal, as assembleias são a instância superior decisória dos sindicatos. Os coordenadores e diretores não podem decidir por si mesmos. Como o prefeito disse na praça que ele também "já foi sindicalista", deveria saber desse funcionamento.
Inicialmente calmo, o prefeito demonstrou claramente perder a serenidade ao longo dos debates, inclusive, dizendo a uma servidora que, se ela não quisesse ouvi-lo, que se retirasse da praça. Nesse nível.
Finalmente, enquanto os debates ainda aconteciam, o prefeito virou as costas para os trabalhadores e voltou ao seu gabinete.
Após alguma discussão interna do Movimento sobre se as negociações com o prefeito se dariam ali mesmo ou na segunda-feira, representantes dos sindicatos foram à prefeitura ver as contas disponibilizadas pelo governante.
Voltaram com as mãos abanando.
Hoje, o movimento realiza ato às 15h, no Largo Santo Antônio, com Assembleia Unificada na sequência para avaliar os rumos e novos passos.
DISCUSSÃO INTERNA
O debate interno do Movimento se acalorou e se deu porque uma corrente desejava a negociação com o prefeito já, pois o governante convidou os líderes a irem ao prédio da prefeitura conferirem as contas do município; a outra corrente, defendia que a negociação se desse apenas na segunda-feira, após a paralisação - como também levantou em sua fala o prefeito.
Talvez o governo não entenda esse tipo de debate interno, que é comum em movimentos nos quais as pessoas têm liberdade para opinar, discordar e levantar suas defesas para o debate - algo muito diferente, na verdade, oposto ao que acontece dentro do governo, onde apenas uma liderança fala e as outras abaixam a cabeça, obedecendo sem poderem questionar.
As diferenças enriquecem; a unanimidade emburrece. Fica a dica.
A PARALISAÇÃO FECHOU AS PORTAS DA NEGOCIAÇÃO?
Para algumas pessoas, o fato do Movimento ter agendado a paralisação e o ato para o dia no qual se havia combinado reunião com o prefeito (28) significou um fechamento de portas dos sindicatos para a negociação com o governo - tanto é que o mesmo cancelou a reunião.
É uma interpretação, uma forma de ver a situação. Mas há outras possibilidades de interpretação.
As lideranças que estiveram negociando com o prefeito transmitiram a ideia de que o mesmo foi muito taxativo com seus 5,83% - que seria "isso ou nada". O ponto principal da pauta de negociações - cujo restante seria tratado na reunião do dia 28 - era exatamente o reajuste, que não é uma vontade do movimento, mas sim uma obrigação legal do prefeito, todo mês de abril, no índice da inflação, somado às perdas do período.
A decisão da maioria na Assembleia Geral Unificada foi pela paralisação e ato nos dias 28 e 29, e, tendo sido acertada ou não, foi a escolha da maioria. Seus efeitos, acrescente-se, acabaram também não sendo prejudiciais - prova disso é que o prefeito não apenas se dispôs a participar do ato, manifestando sua fala, quanto convidou os servidores a negociarem ontem e segunda-feira.
Às vezes, só a pressão extrema faz com que alcancemos a negociação justa. Fica o tema para a discussão.
COMENTÁRIO DO BLOG
O ato e a paralisação, assim, foram sucesso total. Foi louvável a atitude do prefeito em ir ao movimento se manifestar. Seu nervosismo, entretanto, ao ver tamanha reação negativa dos presentes e constatar sua crescente rejeição, acabaram atrapalhando a condução de sua fala, que, em alguns pontos, tornou-se desrespeitosa com os presentes. Não é fácil se acostumar a ser vaiado tão intensamente tendo um séquito de bajuladores tão grande. As posturas de enfrentamento, dos dois lados, entretanto, acabaram ajudando nas negociações, que se iniciaram ontem e seguirão até segunda. Parabéns aos servidores, que compareceram, se manifestaram, não aceitaram e não se curvaram às falas impositivas do prefeito, e que, certamente, darão show novamente hoje à tarde no Largo Santo Antônio. Nossa luta não para.