As eleições são um processo cíclico. Se formos analisar suas relações
ente causa e efeito, podemos dizer que os pleitos jamais terminam, afinal, as
causas de um resultado eleitoral podem estar tanto no dia anterior da votação
quanto numa eleição anterior de 4 ou mais anos. Apesar disso, é possível
recortar historicamente um período de início das origens mais eficazes e
definitivas de um voto.
É o caso das eleições de 2014, que começaram em junho de 2013, com as
manifestações pelo país. O que se viu ali não foi exatamente uma vitória das
redes sociais sobre as ruas, mas uma ida das redes sociais às ruas. Ali,
quebraram-se dois muros: um, que separava o mundo virtual do mundo real; outro,
que dizia não ser possível gerar efeitos corrosivos nas cúpulas políticas
através da internet. Ali, os gabinetes políticos sentiram o efeito das ruas
(que estavam cheias por causa das redes sociais) e, ao menos, ameaçaram
mudanças. Ali, a rede ia para a rua, e as duas, juntas, ameaçavam derrotar os
gabinetes.
O resultado eleitoral de 2014, entretanto, mostrou que, se a rede tem
força para ir às ruas e amedrontar os gabinetes, é fato que ainda as ruas
vencem as redes se assim quiserem. A rede social pode vir a ser, mas ainda não
é um símbolo ou um termômetro das massificações políticas – ao contrário, a rua
quis o que a rede rejeitou. As candidaturas, grupos políticos e propostas de
gestão mais repudiadas no mundo virtual foram exatamente as que venceram no
mundo real – à exceção, talvez, da vitória da presidenta Dilma, que, nas últimas
duas semanas, equilibrou a disputa com aecistas nas redes graças à militância
petista e da esquerda brasileira em geral. Entretanto, é fato que, também neste
caso, durante a imensa maioria do tempo de campanha, a rede social
majoritariamente rejeitou Dilma.
É evidente que as redes sociais geram efeitos nas ruas. Entretanto, a
grande massa não possui ainda, no mundo virtual, seu guia principal de decisão
eleitoral, por dois motivos: primeiro, porque as redes sociais ainda não são
acessíveis à maioria da população, ainda que esse percentual tenha se ampliado
muito; segundo, porque a vida humana é multifacetada, e o povo, em geral,
recebe várias influências para sua decisão política, a partir das diversas
instituições sociais com as quais têm contato: a mídia tradicional (impressa,
radiofônica e televisiva); as denominações religiosas; as associações de
bairro; as instituições escolares, etc.
Assim, a rua tem vida própria, quer queiramos, quer não. Se uma hashtag,
uma postagem ou um comentário possuem efeitos devastadores num processo
político (vide os tuítes de Silas Malafaia na vida de Marina), é fato que uma
propaganda eleitoral bem produzida e emotiva; placas em profusão; santinhos aos
milhões e, principalmente, gente, gente na rua, de todo tipo e por motivos
diversos (pagos, militantes, voluntários, portariados, fanáticos, tanto faz),
ainda possuem peso maior numa mobilização eleitoral.
Em suma, a rede foi para a rua. A rede poderia ter vencido o gabinete.
Mas não venceu porque a rua não quis. A rua ainda é a grande força motora da
política brasileira. Mas precisa, cada vez mais, estar aliada à rede para
definir uma eleição. A rua tem vida própria, mas sem a rede, pode respirar por
aparelhos.
Urge, no país e na nossa cidade, para o próximo pleito, uma via que
integre e equilibre, em favor da população, a rua e a rede, como ferramentas
populares da vontade do povo na definição dos rumos, ocupações e ações dos
gabinetes. É possível. 2014 mostrou isso. Basta querer.
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