O resultado da pesquisa do Datafolha
encomendada pela TV Globo e pelo Jornal Folha de São Paulo, divulgado ontem
para todo o Brasil, consiste em mais um sinal claro e firme de que a escalada
de Marina Silva (PSB) na direção da presidência da República é cada vez mais
consistente e difícil de ser freada.
Isso não quer dizer que a eleição de
Marina seja certa, aliás, como nada é certo na política até o resultado de um
domingo de eleições. A questão é que os analistas que entendiam – e ainda
entendem – que a subida astronômica da ambientalista nas pesquisas se dá por
uma emoção passageira, devida à morte de Eduardo Campos, começam a ver sua tese
ruir.
A emoção, a imagem e a representação
Não é que os 34% de intenções de
voto, empatados com a presidenta Dilma (PT), não sejam emocionais. A questão é
que essa emoção não é passageira. A morte de Campos não é a base desse
sentimento eleitoral, mas apenas a fagulha que faltava para catapultar uma
comoção maior, seja ela justa e coerente ou não (até porque emoções não
precisam ser justas e coerentes, isso é coisa da razão).
Essa comoção maior é a comoção da
mudança, do novo, da representação. E a questão não é se Marina é mesmo tudo isso ou
não – a questão é que o povo brasileiro acha que ela é. O eleitor identifica
Marina com as manifestações de junho de 2013 e o sentimento de ruptura com o
atual modelo representativo. O eleitor identifica Marina com a mesma emoção de
eleger um brasileiro sofrido, como Lula. Para grande parte do eleitorado, a
eleição deste ano era um jogo técnico e estratégico, frio. Agora, virou um jogo
emocionante. E todo mundo quer ver jogos emocionantes. Marina esta fazendo boa
parte do eleitorado ter vontade de votar.
A vontade de mudança e o discurso
Some-se a isso os números recentes
ruins da economia do governo e a relação direta estabelecida pelas redes
sociais e pela televisão entre a insatisfação com o sistema político brasileiro
e o governo Dilma. O eleitor não aguenta a mesma novela muito tempo. Nem o
mesmo partido no poder. Não é uma questão de análise política estrutural
técnica – é uma questão de sentimento. O eleitor brasileiro sempre deseja mudar, mesmo quando deveria manter. Ele não busca a mudança porque algo está ruim, mas porque algo já está há muito tempo igual. Não é uma análise qualitativa, mas quantitativa, até porque nem sempre se troca de roupa porque ela rasgou, mas, às vezes, porque se enjoou dela. E as eleições, para a grande maioria do eleitorado brasileiro, não passam de uma roupa - até porque a classe política não faz com que o cidadão as valorize mais do que isso. O eleitor só trata a eleição como algo pequeno e fútil porque o político deu esse preço a ela no mercado.
E, nesse ponto, os discursos são
muito diferentes. Dilma nunca tocou os corações dos brasileiros, a não ser em
curtos momentos, como naquela resposta histórica ao Senador Agripino, acerca de
sua participação na oposição à ditadura militar (assista aqui). Marina, embora esteja longe de
emocionar, aprendeu a dizer exatamente o que o eleitor médio quer ouvir: novo,
mudança, representação, não almejar a reeleição, promover participação popular.
Ontem, após a divulgação da pesquisa, ela disse que o Brasil já havia colocado
no poder um acadêmico, um operário, e há de eleger uma professora que veio do
seringal da Amazônia. Estrategicamente falando, ela foi perfeita. Dilma não tem sido.
O pouco tempo de TV de Marina, na
verdade, a ajuda. Permite a ela dizer frases de efeito e termos objetivos focados na
mudança política para o Brasil, ao mesmo tempo, não dando espaço para embaraços que possam ser
detectados pelos adversários. Claro que esse jogo muda no segundo turno, mas
será o suficiente para virar essa emoção popular, que já dá a ela 10% à
frente de Dilma na simulação dessa prorrogação eleitoral?
A diferença entre os partidos na campanha
Mas não é apenas o discurso de Marina
que se tornou estratégico. O PSB é um partido com direção nacional extremamente
pragmática e racional. A legenda fez evento de lançamento do programa de
governo de Marina ontem, às 14h, poucas horas antes do resultado da pesquisa
(que já se sabia, favoreceria o crescimento de sua candidata) ser divulgado.
Certeiro. O PT, ao contrário, dá sinais claros de falta de empolgação com a campanha de Dilma, se comportando não como um partido governista, mas como qualquer outro numa disputa eleitoral igualitária. A visibilidade da presidenta é fraca nas ruas e já foi bem melhor nas redes sociais.
O impacto do discurso contra Marina
Uma pesquisa qualitativa foi realizada ontem por uma
agência de propaganda em São Paulo, só com eleitores declarados de Marina,
segundo o colunista Lauro Jardim. De acordo com ele, o resultado considerou que a
questão do avião não afeta as classes C, D e E, que, simplesmente, não
conseguem entender direito do que está se falando. A inexperiência de Marina
também não cola na cabeça do eleitor, até porque ela já foi Senadora e alguns dos mesmos votantes elegeram Lula em 2002, que só havia sido deputado federal. A baixa
votação obtida por Marina no Acre em 2010 é mais irrelevante para a eles do que o jato de Eduardo. Apenas a discussão sobre a “nova política”
contra a “velha política”, segundo a pesquisa, teria causado algum desconforto
em seu eleitorado.
Quem vota em Marina
Marina conseguiu criar uma imagem que
reúne uma parcela do formador de opinião; uma grande parte do eleitorado que
foi às ruas ou apoiou os movimentos de junho de 2013 – os que olham para a
política nacional, e, sem sofisticação ou reflexão, afirmam que “está tudo
errado”; uma parcela pequena, mas singular do eleitorado evangélico; e boa
parte dos eleitores das classes C, D e E, que votariam em Marina como um novo Lula, e por motivos semelhantes.
A avaliação do governo Dilma e a rejeição de Marina
Na pesquisa do Datafolha, o governo
Dilma Rousseff é regular para 39% dos entrevistados; ótimo ou bom para 35% e
ruim para 26%. Isso parece contraditório, mas também trabalha, por incrível que
pareça, contra Dilma. O eleitor pode estar aplaudindo timidamente a
gestão petista, reconhecendo que o trabalho foi bom, mas agradecendo a
participação e convidando alguém que, julgam, pode melhorar o contexto e ainda arejar
o pesado quadro político desacreditado no país. Some-se a isso os 10% de rejeição de Marina, inferior até a Zé Maria (PSTU) e Pastor Everaldo (PSC) e distante longinquamente de Dilma e Aécio.
Marina e Dilma para Castells
Em sua obra “Redes de Indignação e
Esperança”, o renomado cientista social Manuel Castells analisa os movimentos
conduzidos pelas redes sociais no mundo árabe, escrevendo um posfácio em julho de 2013, enquanto estava no Brasil, durante as manifestações.
Ele defende que
Marina foi o único nome da classe política a se colocar ao lado dos jovens nas
ruas, mas ressalta que Dilma foi também a única presidente de países que
passaram por estes acontecimentos a se comprometer com respostas às ruas, como
o foi a proposta de reforma política, brecada pelo Congresso. Por causa disso,
entre outros fatores, Castells conclui: “talvez a autêntica democrata que Dilma
Rousseff sempre foi, seja cerceada e enfraquecida por seus próprios companheiros
de partido”. Faria apenas uma adendo: cerceada e enfraquecida por um sistema
representativo e parlamentar desacreditado e inoperante, que consegue,
surpreendentemente, ir contra tudo o que a população almeja, como se aquelas passeatas fossem um nada.
Conclusão
Nesse sentido, considero que a tese da
desidratação da candidatura de Marina seja pouco provável. A onda que explodiu
uma semana antes da eleição em 2010 surgiu agora 40 dias antes do pleito. E vem
não apenas mais consistente, mas auxiliada pelo contexto de junho de 2013 e
pela rejeição ao modelo político atual, que Marina representa, ao menos, na
cabeça dos eleitores. Marina está na moda. E, numa eleição, só se vence uma
onda, uma moda, com outra - e Dilma, certamente, não a será. Só Lula, talvez,
possa segurar Marina. Se isso não acontecer, o Brasil já pode se preparar para
uma nova presidenta.
5 comentários:
Companheiros:
O Brasil está mudando e muitos não estão percebendo.
Por outro lado a "zona de conforto" em que muitos cidadãos se encontram impede-os de iniciar uma militância para acelerar este processo.
Juntos nós sempre seremos mais fortes!
40 abraços a todos!
Brito
na verdade o PT é um partido apodrecido, os eleitores brasileiros, anseiam por um fato novo em que nasça ali um Novo Brasil. Assim como eu, VOTO EM MARINA SILVA
MARCOS
Enquanto Isso a situação do Lider do governo ou ex-lider Dr Taylor Junior tá complicada, Dr Taylor e Marcos Mendes, se falam bastante ao telefone diariamente, e se encaminha para a oposição, já era esperado por todos a atitude do Dr Taylor. quem sabe, os dois nao façam uma dobradinha nas proximas eleições municipais.
Só se marquinho estivesse doído ,um homem que até hoje ,só o que fez ,foi puxar o saco do ptefeito ,esquecendo de suas obrigações com o povo cabo friense que lhe deram a votação .
Acho que marina também e lulista .não confio!
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