Retroagir é relembrar. Retrospectar é andar para trás. Expectativas são
futuros. Perspectivas, possibilidades – positivas, presumo. Lembrar 2013 e suas
agruras seria um gesto parecido ao desespero. Recordá-lo enquanto se projeta o
que virá, outrossim, propõe transformar os obstáculos das centenas de dias
vividos em alimento para construir um vindouro
melhor.
Façamo-lo.
E lá se foi 2013, com seus mandos e desmandos. Vimos perseguições a quem
não correu atrás de ninguém. Vimos buracos nas pistas do povo e milhões nas
orlas dos grandes. Houve os que quiseram trabalhar e foram impedidos por isso.
Houve os que não desejavam trabalhar, e foram premiados pelo mesmo.
Vimos assinaturas que não queríamos ver e acusações de quem foi acusado.
Vimos falsidades e falsificações. Rotatórias que não rodaram e salários que não
foram depositados. Houve sindicatos indicados à condenação porque decidiram ser
normais. Vimos trabalhadores condenados por terem direitos.
Vimos governos que deveriam ter sido denunciados denunciando servidores
que deveriam processá-los. Houve gente ganhando
diferente e trabalhando igual. Vimos cercas derrubadas com poder de polícia e
falta de poder para levar dignidade às cercas derrubadas. Vimos shows
escondendo buracos, slogans tapando filas e propagandas ocultando remédios que
se ocultavam.
Vimos pedidos de perdão temperados por promessas não cumpridas. Vimos
governantes nervosos respondendo quem nada os perguntou. Houve proibições de
que se falasse a verdade na tela da mentira. Houve mentiras tratadas como
verdade e verdades tratadas como tela.
Centros de diversões viraram parques de convenções. Nomes de coisas já criadas mudaram para parecerem novas criações. Palavras virtuosas perderam o sentido.
Centros de diversões viraram parques de convenções. Nomes de coisas já criadas mudaram para parecerem novas criações. Palavras virtuosas perderam o sentido.
Mas também houve a resistência do muro que se forma das pedras
rejeitadas, retiradas do entulho e atiradas contra os pedreiros que o
construíram. Houve redes. Houve sociais. E houve tudo junto. Vimos palavras
soltas e presas à liberdade. Vimos denúncias. Vimos denúncias que viraram
letras, letras que viraram papéis e papéis que viraram justiça. Vimos justiça
que virou gente e gente que virou rua. Vimos a Lua. E sem sair do chão.
Vimos o servidor que deixou de servir e não quis ser servido, a superar
diferenças e se fazer igual, contra o poder que lhe quer ver servo. Vimos a
incompetência de um lado unir os competentes do outro, como liga que une as
pedras exatamente por ser oposto a elas. Houve a certeza do perigo maior como
líquido inebriante a unir os diferentes num mesmo baile de opostos opositores.
Resumindo o resumo, vimos gente. Gente que chorou e sorriu, que
denunciou e calou. Gente que deu as mãos quando a distância parecia a regra e
que lutou junto quando a certeza era a derrota. Gente que usou telas, páginas,
letras, vozes, palavras, documentos e praças, ruas e redes, teclados e canetas
para desfraldar seu grito seco – e às vezes rouco – de pura utopia revelada,
existente e exequível: “eu quero mudar. E sei que é possível”.
Ei-lo, 2013. Obrigado por tudo o que nos destes: ao tao. Desculpe-nos por tudo
que deixamos de vos dar. Descansai sereno em vosso confortável colchonete do
passado e deixai-nos livres a receber o primo que vos sucede, para que ele seja
melhor do que vós e tão esperançoso quanto nós. Amém.
Feliz 2014.