
Hoje não quero falar sobre partidos ou culturas, afinal, “isso é coisa de antropólogo”. Não quero falar sobre disputas, histórias ou denúncias. Hoje é tempo de falar de desculpas.
É tempo de desculpas com a desculpa do tempo. Eu, que estudei o tempo e me formei na História frente a ele, agora me vejo por ele devorado, como Cronos devorava seus filhos, como tempo no tempo dos gregos antigos, mas não velhos. Decidido a traçar uma trajetória independente, mas não apartada dos amigos, companheiros e apoiadores, tenho hoje meu todo tempo devorado entre trajetos surreais, por ilhas macaenses, niteroienses e cabofrienses d’além mar.
Com a decisão de não depender de favores, restou-me trabalhar e estudar mais, para ganhar nem tanto quanto, e, entre o tempo aprisionado e a falta dele com liberdade, escolhi a segunda. Nesse mar de estudo e trabalho, me fica impossível estar em certos lugares aos quais o coração clama. Resta-me pedir desculpas.
Ao amigo Janio, porque desejava estar mais próximo nessa caminhada de vitória; aos cafés prometidos e não cumpridos com meus mestres Guaral e Chicão; ao Diogo, pela entrevista não realizada, fruto de celulares esquizofrênicos em meio a um dia atrapalhado; aos amigos pescadores da Gamboa, pelo meu excesso de reflexão e falta de presença – prometo compensá-las no Festival deste fim de semana; ao Fernando pela ausência nas rodas de leitura (não esqueci dos livros); aos amigos da cultura, pela ausência após um ano passado de lutas e batalhas pelo Fórum (prometo compensar neste fim de semana estando presente no Fesq); ao Jiddu, pela falta de e-mails (não esquecerei da cópia do filme); ao Valtemir e ao Júlio, pelas promessas de conversas não cumpridas; ao Juninho e ao José Corrêa, pelas promessas de cafés igualmente declinadas; à Folha, pelos artigos, por vezes necessariamente esquecidos, em semanas intercaladas; aos leitores do meu blog, abandonados por dias e desejosos em me oferecer troféus que engolem criadores.
Num momento eleitoral no qual as promessas superam as desculpas e as desculpas pedidas pelo povo enfraquecem suas opiniões contraditoriamente carentes, fica aqui a minha pausa, pois como diz Levy-Bruhl, nem tudo no homem é razão, e ela nada seria se não lhe precedesse, na história e na lógica, a emoção.
Feliz por, no amor, encontrar-me em presença evolutiva e apaixonadamente realizada, recorro a ele – e a ela – para, juntos, prometermos a todos os que nos cercam sempre um pouco mais de opiniões independentes, de liberdade tranquila e de senso crítico moderadamente empolgado. No tempo, fora dele ou sem ele, deixemos que nos devore, para que possamos digeri-lo. Se as ruas e as páginas me vêem menos, é para que eu possa ver melhor a todos, já feliz pela lua que chega. Que ela nos abençoe, homens e mulheres de letras e ações, violões e pequenos cartões, virgulinas e matinadoras guerreiras.
P.S.: A imagem é uma pintura genial de Francesco Goya, "Saturno devora seus filhos" (Cronos, deus do tempo para os gregos, chamava-se Saturno para os Romanos).