
Quem é mais amado: o antiético sincero ou o falso bom-moço? Não sabendo responder a pergunta, vesti a carapuça do primeiro e assumo estar plagiando a reflexão do companheiro Clóvis Eduardo, que em seu blog aldeense relatou uma frutuosa reflexão sobre grandes muros da humanidade. Da muralha da China à “muretinha da alegria” da atual administração aldeense (escândalo do muro do campo de futebol no bairro Nova São Pedro, com 30 metros de comprimento por 80 centímetros altura, que custou incríveis R$ 19.912,10 aos cofres públicos), o blogueiro cita o Muro da Cisjordânia (iniciado em 2002 para separar Israelenses e Palestinos) e o projeto de muros da dupla moralista-dinâmica Cabral/Paes, no Rio de Janeiro, que pretende isolar 19 comunidades, a começar pelo Santa Marta, removendo 550 casas em cerca de 11 quilômetros de concreto.
Ao comemorarmos neste mês, especificamente no dia 9, os 20 anos da queda do Muro de Berlim, e ao observarmos o recente escândalo do muro aldeense, queremos contribuir com a lembrança de outros muros que nos cercam por essas bandas de cá.
Plagiando reflexões da companheira Martha Alves, o Morro do Telégrafo é um dos nossos muros. Ele divide a bela Cabo Frio balneária da Cabo Frio dotada de mazelas e problemas sociais, o além-Jacaré. Os chamados “muristas” da política municipal também entram em cena, equilibrando-se nos tijolos amarelos, ao não decidirem de que lado estão na governança municipal – e eles são muitos, devido não só às suas próprias personalidades, transbordantes de interesses pessoais, mas também à própria fragilidade e falta de rédeas da atual administração citadina, que, recentemente, jogou para o outro lado do muro cerca de 700 contratados, movido por uma decisão judicial, ao invés de fazê-lo homeopaticamente, esclarecendo, discutindo e debatendo com a população.
Quanto a esse fato, cabe indagar ainda qual o critério judicial utilizado para gerar as demissões. Contratos temporários recentes? Talvez freqüências de comparecimento aos órgãos públicos correspondentes, ou ainda, análises de produção, seriam mais coerentes para determinar quem seria ou não demitido. Assim sendo, veríamos que há Secretários, Coordenadores e medalhões que mereceriam bem mais serem escorraçados para o outro lado do muro do que muitos dos cerca de 700 cidadãos do caso em tela.
O muro da crise financeira tem falado mais alto na cidade, ainda que seja uma construção, por enquanto, imaginária – não o vemos, não o sentimos tanto, mas o muro é alegado como motivo de separação entre as políticas públicas desejadas e realizadas. Falta ainda alguém mostrar o tamanho do muro, se ele existe ou não, onde ele está, as notas de compra dos materiais. Fica fácil dizer que há crise sem mostrar equiparações entre receitas e despesas, como fica fácil informar ao proprietário que o muro foi construído por correspondência...
Enquanto isso, a cidade ainda abriga muros de lamentações de quem outrora exercia atitudes semelhantes no mesmo poder. Choram suas mágoas batendo nos tijolos, não porque sejam tão diferentes, mas simplesmente porque deixaram seus lugares serem ocupados no lado rentável da mureta profano-sagrada.
De muros em muros, plágios em plágios, vamos construindo nossas fortalezas de medo e segregação, dentro ou fora de nós, da cidade, de casa. Ainda bem que, quando criança, aprendemos a pulá-los, em busca do fruto proibido, da bola perdida, ou do esconderijo perfeito em nossas brincadeiras pueris.