Carnaval 2009 : não somos tão corruptos assim

Os resultados do carnaval 2009, tanto nos desfiles das Escolas de Samba do Rio de Janeiro quanto de Cabo Frio, nos forneceram uma lição interessante – de acordo com os campeões, não somos tão corruptos assim.
No Rio de Janeiro, a vitória incontestável do Salgueiro (segundo as palavras do intrépido intérprete Quinho), de ponta a ponta na apuração, contrariou muitas expectativas resignadas dos torcedores carnavalescos, segundo os quais a vitória da Beija-Flor já era carta marcada do carnaval carioca, ainda mais com o apadrinhamento do Presidente Lula, a força de Anísio e o drama criado em cima da doença e do casamento de Neguinho. Apesar de portelense, devo reocnhecer que o Salgueiro veio com um enredo simples e uma força da comunidade muito grande. Isso não exclui possíveis participações do crime organizado, mas se assim fosse, a Mangueira seria a campeã com todas as notas 10. Isso também não exclui a constante aversão dos jurados a soluções inovadoras, como a do Carnavalesco Paulo Barros, que promoveu, a meu ver, o mais belo e diferente desfile do carnaval, pela Vila Isabel. Novamente, a técnica prevaleceu sobre a imaginação. De toda sorte, para quem acreditava que os jurados ou a mídia dariam o título de bandeja para a Beija-Flor, por motivos financeiros ou não, fica a lição: não somos tão corruptos assim.
Em Cabo Frio, a vitória da Império também nos traz respostas. O comentário na cidade era que o título estava entregue para a Flor da Passagem e que a apuração seria corrupta, ainda mais depois dos problemas com os jurados no ano passado, acusações sempre na idéia de apontar a relação do atual Governo com os resultados do Carnaval. O que se viu foi a vitória de uma Escola apadrinhada, direta ou indiretamente, pelo ex-Prefeito Alair Corrêa. Ao que tudo indica, portanto, não pode ter havido “o dedo do Governo” na apuração. A hipótese de injeção violenta de dinheiro por parte do atual Deputado Estadual é remota também. O fato, de qualquer forma, é que a vitória da Império traz a séria impressão de que não há tanta corrupção na apuração do carnaval cabo-friense quanto se pensava, se é que há alguma.
Conclusão: menos um tópico na imensa lista de críticas dos pudicos de plantão. Salve o samba, cultura popular: ainda que ele não seja mais tão popular assim, sem dúvida, se movimenta bem mais “de baixo para cima” do que as populares músicas brasileiras e as empolgadinhas tendências alternativas e undergrounds, que não tocam nos barracos nem nos guetos do Brasil, afinal, como diz João Bosco, “fantasia é um troço que o cara tira no Carnaval...”