Resposta a José Facury

Pronto. Peguei a mania. Não cheguei aos 30, mas já caio nesta esclerose esquizofrênica da mania de repetição. Se no último domingo dispus-me a responder o texto do Fábio Emecê – concordando com ele, hoje me apresento com o intuito de responder – discordando, com respeito – ao texto do Professor José Facury, publicado na Folha dos Lagos na última quarta-feira.
O problema dos argumentos do Professor Facury não é o pessimismo: É o efeito perigoso de acreditar na fórmula malufista: “rouba mas faz”. É o problema de repetir as palavras proféticas de Matta Machado, presidente do PT de Cabo Frio, diante da suposta tentativa de suborno do Prefeito Marquinho Mendes ao militante e meu fã número 1 – ele me adora – Abílio César Bernardino: “esse tipo de negociação é normal na política”.
O problema desse texto é que ele justifica que os candidatos “fichas-sujas” sejam tranquilamente eleitos, como é o caso da chapa do Sr. Alair Corrêa, que tem dois processos criminais nas costas,um por calúnia e difamação, outro, por dispensa ilegal de licitação, além de quatro processo no Tribunal de Contas da União, por uso indevido de verbas do SUS (dois), do Fundo Nacional de Saúde para o combate à Dengue e do Programa Nacional de Alimentação Escolar. Isso sem falar na candidata a vice, a esposa, Zete, que responde a processo no Tribunal de Contas do Estado por irregularidades na prestação de contas do Fundo Municipal de Assistência Social.
Não me proponho aqui, eu, cambaleante nesse caminho das tintas e das letras, desafiar o Professor Facury, notadamente conhecido por seu longo trajeto, não só no mundo da literatura, mas também na arte e na cultura de Cabo Frio. Com o respeito que deve ser oferecido a qualquer um, desejo apenas mostrar que não quero o santo, o perfeito no poder. Mas também não quero um pau oco. Quero quem se aproxime mais do santo do que do demônio. Quero um ser humano, que possa colocar em prática um pouco do desejo popular – ainda que reprimido – de uma política menos podre. Os argumentos do texto em questão soam como um medo da crescente moralização do processo político-eleitoral, disfarçados de realismo pé-no-chão pragmático.
Nas palavras de Jacques Derrida, “o presente é muito decepcionante” ao que John Caputo completa: “não ser complacente com a situação em que nos encontramos, bem como nos impulsionarmos no desejo de ir onde não podemos ir, é o que devemos fazer. Devemos nos colocar no caminho do impossível, pois é ele que amamos”. Parafraseando um Santo, Agostinho, digamos que “inquieto [deve estar] o nosso coração”. E que o dia 05 de outubro seja mais próximo de um Tribunal da Inquisição para os sujos da política do que de uma peça de teatro que engane o respeitável público. Assim seja. Glória, awerê, Axé, salamaleico e tudo mais. E um gole pro Santo, por favor.