QUAL É A COR DA SUA CONSCIÊNCIA?
“Por que não um dia da Consciência Branca?” A Sociedade democrática tem como pauta elaborar leis que “tratem desigualmente os desiguais”, a fim de suprir sua exclusão social, como nos disse Rui Barbosa, roubando a frase originalmente de Aristóteles. Por isso o dia do negro, da mulher, do estudante e do trabalhador. Não que o branco, o homem, o Ministro da Educação e o patrão não mereçam seu dia. A questão é, que numa sociedade capitalista, ainda patriarcal, e em sua essência e elitista, estes últimos quatro recebem mais atenção econômica e social que aqueles, logo, busca-e a lei compensar tal desigualdade, por exemplo, reservando um dia próprio para cada grupo excluído. Assim também faz a lei, por exemplo, no art. 100 do Código de Processo Civil que, claramente, estabelece uma diferença entre a mulher e o homem, embora o art. 5 da Constituição proíba isso. Isso ocorre porque, embora a Constituição defenda a igualdade entre os gêneros, isso ainda não ocorre na prática em nosso País e, enquanto não chegamos nessa fase desejada, deve a lei buscar mecanismos para cicatrizar essa diferença.
“O dia da Consciência Negra não adianta nada, pois não resolve o problema do preconceito contra o negro”. Óbvio que não, mas abre a possibilidade de ao menos se refletir sobre ela. O seu dia obrigatório de descanso semanal do trabalho de nada adianta também, já que em seguida você terá de trabalhar de novo. Então seu dia de folga é sem sentido também? Você o dispensa?
“Eu não gosto de pessoas de cor”. Fora o preconceito infantil da frase, em minha rasteira visão, entendo que o negro não deva ser considerado nem cor, nem raça, nem etnia, mas uma identidade social, seguindo em parte a teoria do Prof. Dr. Kabengele Munanga, da USP, que entende a raça como um conceito morfo-biológico e a etnia como um conceito sócio-cultural. Quanto ao conceito de cor, nem vale a pena discutir: Cor é de roupa, casa, objetos, não se fala de cor quando se fala de gente. Nesse sentido, costumo definir o negro como uma identidade social, ou grupo social, uma comunidade de pertença dentro de uma sociedade, que engloba aspectos de raça e etnia. Os negros não são unidos apenas pela cor, mas pela cultura, história, habilidades comuns (dança, arte, etc.) e principalmente pela exclusão comum.
“Quem tem maior preconceito contra o negro é o próprio negro”. Se o próprio negro por vezes não gosta de seus cabelos e sua cor, é porque nós, brancos, ensinamos assim, pois ao longo de anos branqueamos e europeizamos a sociedade brasileira, estabelecendo como padrão cultural e estético o branco europeu. Se o negro por vezes tem auto-preconceito, isso se dá porque seguem as aulas do branco preconceituoso. Aliás, o "branco" brasileiro (que na verdade é mestiço) também é o maior exemplo de preconceito contra si mesmo, pois, estabelecendo como padrão estético social o branco europeu, rompe com sua própria raiz, indígena ou mestiça. Nem o gaúcho filho direto de alemão, pode considerar-se branco europeu, pois, vivendo em terras brasileiras, já é mestiço, se não biologicamente, ao menos socialmente mestiço, pois não toma cerveja quente e nem usa suspensórios, mas desfila de regata e bebe uma boa gelada no domingo.
“As cotas para negros são a maior forma de preconceito contra os negros.” As cotas para negros são uma forma da sociedade desculpar-se e pagar a dívida da escravidão ao longo da história, como afirmou o Presidente Lula. De fato, há uma dívida com os negros no Brasil, cujos juros da escravidão se percebem até hoje, através da exclusão social e econômica do negro no País. Porém, é preciso perceber que a dívida maior não é com o negro, e sim com o pobre. Milhões de brasileiros são excluídos há 500 anos, tanto negros, quanto brancos, índios, os coolies amarelos e outros mais. Portanto, a prioridade deve ser o pobre, pois o pobre constitui uma identidade social mais ampla numericamente que o negro e com uma dívida, logicamente, maior. As cotas deveriam ser, logo, para os hipossuficientes (pobres), grupo no qual os negros são ampla maioria, por causa, aí sim, da exclusão social que vem desde a escravidão. Desta maneira, saldar-se-iam duas dívidas com uma só medida: A cota para pobres nas universidades permitiria ao pobre chegar ao nível superior e, conseqüentemente, aos negros também, em sua maioria pobres. Necessário ainda é lembrar que as cotas devem ser medidas de emergência, sendo eliminadas adiante através de um incentivo estatal aos pré-vestibulares para carentes e negros (como o EDUCAFRO) e de uma melhoria significativa no Ensino Público fundamental e médio, como ocorreu na França, que vem abolindo as cotas após anos, por ter alcançado bons índices de inclusão educacional.